domingo, 10 de julho de 2011

À Deriva

Quando você é jovem, em algum momento passa por essa experiência. Uma descoberta tão traumática quanto reveladora que te afeta pelo resto da vida. Que te expõe pela primeira vez à noção de que o mundo é duro, cru e frio. Mas também mostra a verdade das coisas e te faz sentir um pouco mais ligado a realidade (por mais dura que ela seja, ainda assim é a realidade e sou inclinado a crer que isso é bem melhor que o embotamento juvenil).
Eu tinha de 18 pra 19 anos quando passei por isso. Quando de repente a verdade me deu um golpe certeiro e pela primeira vez percebi que meu pais não eram infalíveis, não eram indefectíveis, não eram um poço de equilíbrio. Que eles não eram super-heróis.
E isso nunca é fácil. Nunca é simples de aceitar. Nunca é leve.
Antes de conseguir assimilar a descoberta a pessoa passa por um período triste. Desolador. Em que se sente sozinho, à deriva, solto no mundo à merce do caos.
Tudo toma um tom estranho, inóspito, assustador e confuso.
É o primeiro sinal de que a adolescência está chegando ao fim.

Agora, depois de 10 anos, coisa parecida torna a acontecer.
De repente me caiu na cara o quanto eu sou falho. Revendo acontecimentos do passado, relendo e-mails antigos de ex-esposas, ex-namoradas, ex-amigos, passando tudo a limpo, analisando todas as coisas com a frieza e imparcialidade com que olho meu passado, começo a me dar conta de todos os erros estúpidos que cometi. De todas as coisas que poderiam ter sido feitas um pouco diferentes se eu fosse um pouco menos egoísta, um pouco menos introspectivo, um pouco menos ingênuo, um pouco menos infantil, um pouco menos metido a besta, um pouco menos babaca.
De repente eu olho e me dou conta do mal que provoquei aos outros, percebo o quanto fui amado por mulheres a quem usei, o quanto projetei nelas expectativas minhas que eram impossíveis de ser correspondidas e então as substituía, as humilhava, as reduzia.
Quanta cagada foi feita só pra saciar meus próprios caprichos pueris, meu romantismo acuador, minha ilusão do que era o ideal. E muitas vezes o ideal era só meu.
De repente eu percebo que se fui traído, se me esconderam coisas, se mentiram era por culpa minha. Porque eu era intransigente, tolo, superficial e interesseiro. Por que eu era violento, invasivo, ditador e frio.
Porque eu era mentiroso. Fraco. Falso. Desapegado de qualquer coisa que não transladasse em torno do meu umbigo.

De repente tudo veio.
E quando você descobre o tamanho do crápula que é, a intensidade do egoísmo e vilania que sempre permeou suas ações sem que você se desse conta, quanta merda foi feita enquanto pensava que estava sendo educado, fino, belo e benquisto... quando você se dá conta disso, de repente percebe que não se conhece mais, de repente lhe falta o chão. É como se o capitão da sua vida tivesse abandonado o barco. Mas todo o resto da tripulação tivesse sido deixada pra trás.