segunda-feira, 8 de julho de 2013

A menina que nunca foi

Um pouco antes de começar a namorar a menina com quem eu estava tendo um affair, quando eu ainda nem sabia que dali há algumas semanas aquele affair viraria um namoro e o namoro viraria noivado, acabei conhecendo uma outra guria.
Morena sorridente, inteligente, miudinha, olhos e nariz grandes, do tipo que sempre (sempre!) me deixa encantado. Ela era de peixes, fazia faculdade, morava com umas amigas ali, pelas redondezas da Augusta e me achou parecido com o Chris Cornell, o que discordei veementemente mas acabou sendo o gancho da nossa conversa.
No fim da noite trocamos números de telefone e eu prometi ligar pra marcar um encontro, uma cerveja, qualquer coisa.
Mas meu telefone foi roubado pouco tempo depois e – mais um tempinho adiante, como já tinha dito – comecei a namorar.

Nunca liguei.

Tempos depois, por acaso, saindo da estação de metrô da Consolação, acabamos nos encontrando. Batemos papo rapidamente, falamos sobre o que havia de novo, contei do roubo do meu celular e ela contou da faculdade, anotei mais uma vez os números do telefone dela, nos despedimos e prometi de novo que telefonaria.
Mas eu ainda estava namorando.
Ela me ligou. Não marcamos nada. Não falamos sobre as novidades. Nada. Apenas falamos.
Meu namoro tornou-se noivado, o noivado acabou e até hoje eu lembro daquela pisciana com curiosidade, com interesse e com vontade de ter tido a chance de saber mais sobre ela, de escutar suas histórias, de experimentar sua companhia.
Até hoje me perco conjecturando o que teria acontecido se meu telefone não tivesse sido roubado, se meu namoro não tivesse vingado, se acabássemos nos encontrando outra vez, por acaso, nalguma esquina da Augusta. Se tivéssemos tido oportunidade de nos conhecermos, se eu tivesse telefonado na segunda vez, se ela não tivesse desaparecido depois daquela ligação...

De todas as meninas que conheci ao longo da vida, até hoje, ela é a mais bonita, a mais inteligente, a mais sorridente. A mais perfeita, mais isenta de deméritos, a que mais resplandece. Porque de todas as meninas que foram parte da minha vida, aquela pequenina morena pisciana acabou sendo a única menina que nunca foi.

Um comentário:

Mariane Lobo disse...

Que gosto estranho é esse que a gente tem por tudo que escorre entre as nossas mãos? Tudo que se movimenta, que dança, que se deixa levar pelo tempo exerce mais fascínio sobre nós, eleva a imaginação. O momento que pairou no ar, a menina que nunca foi, o instante em que perdemos de vista, as palavras que deixaram de ser ditas... O subjetivo tem um poder de atração irresistível - só não é mais atraente que essa sua moreninha pisciana aí, rs.